A estrada é toda nossa!

Ir na auto-estrada e perceber que todos os condutores adoram a via do meio não é novidade. Relembro que se deve andar à direita embora já tenha percebido que isso parece dar muito trabalho a alguns condutores. Ultrapassar camiões e voltar à mesma via é cansativo, porque não andar sempre no mesmo sítio? E ir na via do meio a 80km/h em plena auto-estrada?

O primeiro cenário não é suficiente para me tirarem do sério mas juntar os dois normalmente dar-vos-á direito a muitos sinais de luzes e palavras, digamos apenas, pouco dignas de serem ouvidas.

No outro lado da balança estão os condutores que se julgam donos da via da esquerda e que passam a viagem toda a fazer sinais de luzes a quem tenha a coragem de ir para a via “deles”, mesmo que seja para, de acordo com as regras de trânsito, ultrapassar um outro veículo no limiar do limite de velocidade.

Num jantar de amigos conheci alguém que estava a descrever a sua pouca paciência com este tipo de condutores. Contava que há uns meses ia na auto-estrada a entrar em Lisboa e tinha um automóvel atrás a fazer sinais de luzes sem parar. Como já tinha visto uma fila mais à frente, típica de hora de ponta para entrar em Lisboa, não mudou de via. Quando parou o veículo atrás da fila, puxou o travão de mão e saiu disparado em direcção ao condutor atrás para lhe dar uma lição. Irresponsável e de cabeça quente deu uns murros no capot do carro para marcar posição até se dirigir ao condutor com uma atitude de besta. O condutor do veículo de trás, que se tinha trancado dentro do veículo com medo, abriu um pouco o vidro e disse-lhe: “era só para avisar que não tem as luzes traseiras do carro”. Sem palavras, o rapaz saiu dali, acelerou  e não voltou a repetir o espectáculo. Quem acabou por levar uma lição foi ele.

A experiência do utilizador é uma mais valia quando se conduz mas se conseguirmos passar para a inteligência artificial as regras correctas do código da estrada e do bom senso não será algo bem vindo? É difícil aceitar que uma máquina vai substituir e tomar decisões por um ser humano que podem por em causa a vida de alguém mas não será bom ter um fio condutor por onde todos nos podemos reger sem haver excepções. A vida pode ter menos cor porque todos fazemos o mesmo, menos histórias para contar depois, mas será isso necessariamente mau?!

Deixar-se conduzir no centro da cidade

Lisboa está na moda e acolhe cada vez mais turistas. Esta vaga tem transformado a cidade: existem cada vez mais imóveis para aluguer temporário, o preço das habitações tem subido em flecha e quem acaba por ficar no centro da cidade é uma população envelhecida. Mas Lisboa mostra-se como um desafio à mobilidade dos habitantes com maiores dificuldades; Cidade das 7 colinas, com ruas inclinadas e estreitas, calçada portuguesa e passeios quase inexistentes ou invadidos por carros mal estacionados.

Imagine-se o cenário de transportar um idoso para o centro da cidade. O condutor tem o cuidado de parar no meio da rua junto ao destino, sair do veículo e ajudar esta pessoa a chegar à sua habitação. Imagine-se o mesmo cenário com um VA. Daqui algumas questões podem surgir:

(1) Quem vai ajudar a pessoa com dificuldade a sair do táxi autónomo? Haverá um serviço dedicado de ride-sharing autónomo, onde o taxista deixa a sua função de condução e passa a ser anfitrião do serviço?

(2) Nenhum condutor terá dificuldade em ultrapassar um veículo imobilizado no meio da estrada mesmo indo em contra-mão e infringindo a sinalização horizontal; mas será o VA capaz de o fazer em situações especiais?

(3) Parar no meio da estrada, causando congestionamento, pode ser aceite em situações críticas, nas quais a necessidade leva à compreensão social, como é o caso descrito. Mas esta é uma prática comum e muitas vezes com justificações sem valor como é o facto de estar à espera de alguém ou “ir ali e já vir” mesmo com um lugar de estacionamento a 10 metros. O VA alguma vez será capaz de discernir o grau de necessidade e aceitação de determinadas situações?

O futuro das zonas centrais, actualmente com maior pressão de estacionamento, pode passar por não ter quaisquer áreas dedicadas a estacionamento à superfície. Nestes eixos a via da direita poderá ser reservada para tomada e largada de passageiros ou paragem de veículos de mercadorias (evitando que estes também parem no meio da estrada, com recurso à utilização dos quatro piscas, e criando os próprios veículos a situação de perigo). Talvez até se possa pensar numa zona de co-existência com peões na qual se pode maximizar o uso de solo.