E os veículos autónomos que voam? E os próprios aviões?

Quando hoje em dia falamos no futuro dos transportes, “veículos sem condutor” nas estradas é o primeiro pensamento a vir à cabeça… no ar é a mesma coisa. E se das primeiras questões que discutimos relativamente aos VA, inclusive neste blogue, é saber qual a reacção da máquina numa situação de emergência, o mesmo também acontece para os aviões.

A discussão pode parecer semelhante entre estes meios de transporte, e é, no entanto algumas pequenas diferenças podem alimentar uma discussão mais longa no que toca a automóveis. É comum achar que os pilotos têm muita experiência; e esta confiança que temos nos pilotos permite-nos sentir seguros no ar. Mas a verdade pode ser um pouco mais complexa. Os pilotos são realmente experientes e podem salvar vidas, como o Capitão Chesley “Sully” Sullenberger, que aterrou o voo 1549 da US Airways no Rio Hudson, um Airbus A320-214 que sofreu um bird-strike enquanto levantava voo do Aeroporto LaGuardia em Nova Iorque, em Janeiro de 2009. Por outro lado, temos o voo 4U 9525 da Germanwings, que se despenhou contra os Alpes em Março de 2015, e teve como causa principal o factor humano.

Parece transparecer em vários artigos que as pessoas não confiam em aviões sem condutor, mas a verdade é, que alguns dos acidentes a que se assiste na aviação são causados por erro humano. Hoje já todos sabemos que a maior parte dos controlos do avião são automáticos40 e que é possível levantar voo e aterrar sem intervenção do piloto… no entanto voltamos à questão “e em caso de emergência?”. A discussão pode não ter fim mas, da nossa perspectiva, os pilotos fazem mais do que “conduzir” um avião (por exemplo, pré-verificações de voo), o que pode levar a que a discussão dos aviões se possa estender no tempo ainda mais do que nos automóveis.

Gostávamos ainda de discutir o “número de pessoas no cockpit“, talvez noutra altura, mas para já retenham que a Boeing está a pensar em reduzir o número para 1 pessoa apenas41 e que a Airbus está a trabalhar em “carros voadores”42,43. Portanto, tal como nos VA que andam no chão, a revolução no ar também está a acontecer.

Porquê agora?

A ideia dos veículos autónomos foi apresentada pela primeira vez em 1939 por Norman Geddes. E apesar de ter sido pontualmente desenvolvida no mundo, por universidades e empresas automóveis, nunca foi vista como o “futuro dos transportes” por mais de 60 anos. O que mudou neste século então?

(1) Capacidade de armazenamento de dados: Em 1956, a IBM lançava o primeiro disco rígido que guardava 5 MB, por um valor de 10.000 $/MB35. Uma pesquisa rápida pela internet mostra-nos que hoje é possível alugar espaço na cloud por 0,007 $/GB/mês36.

(2) Rede: Em 1969 foi enviada a primeira mensagem por ARPANET, entre o computador anfitrião da UCLA (Universidade da California, Los Angeles) e o computador anfitrião do SRI (Stanford Research Institute). Em 1981, o número de computadores ligados à “internet” já era de 213. No ano passado, mais de 1.000 milhões de anfitriães de internet acederam por DNS37.

(3) Processamento de informação: o custo dos computadores tem vindo a diminuir enquanto, em contrapartida, o seu desempenho aumenta. Em 1961, a unidade IBM 1620 era a mais evoluída e o custo por GFLOPS (operações por segundo) era da ordem dos 1,1×10^12 $/GFLOPS; em 2015, o Intel Celeron G1830 custava 0,08 $/GFLOPS38.

(4) Largura de banda: o preço de largura de banda tem vindo a diminuir ao longo dos anos. Em 1998, o preço, nos EUA, situava-se nos 1.200 $/Mbps; Em 2015, o preço já rondava os 0,63 $/Mbps, o que corresponde a uma média de 35% de descida do preço a cada ano39.

Consideramos que a evolução exponencial da tecnologia foi o maior impulso para a entrada dos VA no nosso vocabulário. Mas o financiamento para o desenvolvimento de VA pelas instituições governamentais, a entrada de novas empresas tecnológicas no mercado automóvel ou eventos, como o DARPA Challenge, que proporcionaram visibilidade ao tema também foram importantes para a abertura desta caixa de Pandora. Lembram-se de mais algumas razões?

(um agradecimento ao Prof. Luis Bento pela sua apresentação deste tema)