E assim começou…

A substituição da condução humana de veículos por um sistema computacional e ferramentas adequadas que permitam a condução autónoma não é uma ideia deste século. Um pequeno contexto histórico permite perceber o caminha já trilhado.

O evento pioneiro dos VA teve lugar em 1939. O VA foi apresentado na Feira Mundial de Nova Iorque (EUA) como a projecção de um sonho. Norman Geddes, patrocinado pela General Motors, colocava o VA como aquilo que o mundo teria para oferecer 20 anos mais tarde (em 1960)28. Mas, nos anos que se seguiram, os esforços de desenvolvimento dos grandes fabricantes de automóveis foram direccionados para a guerra.

Só em 1977, a Universidade de Tsukuba, no Japão, construiu aquele que pode ser considerado o primeiro veículo robótico inteligente29. Com câmaras e uma unidade de processamento a bordo permitia detetar obstáculos e seguir linhas.

Em 1983, a Universidade de Carnegie Mellon (EUA) desenvolveu um modelo, o Terregator30, que usava a combinação de lasers, radares e câmaras para se movimentar sem intervenção humana. Três anos mais tarde, o NavLab 131, também produzido por esta universidade, seria o 1º VA a levar pessoas a bordo a uma velocidade máxima de 32 km/h.

Na mesma década (1980), na Europa, a equipa da Universidade de Bundeswehr München, Alemanha, desenvolveu vários projectos na área da condução autónoma. Por fim, em 1994, apresentaram um Mercedes-Benz Classe-S modificado chamado de VaMP, que se deslocou de modo autónomo por mais de 1000 km, com velocidades de até 130 km/h28.

O projeto ARGO32, desenvolvido entre 1997 e 2001, pela Universidade de Parma, Itália, permitiu construir um protótipo de veículo (com algoritmos de interpretação de imagem) que, seguindo marcas pintadas numa estrada  conduziu, sensivelmente, 2000 km em seis dias, com velocidade média de 90 km/h e 94% do tempo em modo autónomo29.

Já em 2004, a DARPA, agência americana da defesa, promoveu um concurso para acelerar o desenvolvimento dos veículos autónomos. Os participantes deviam apresentar um VA que conseguisse terminar o desafio criado pela DARPA. Nesse ano, nenhum participante terminou. No ano seguinte, participaram 195 equipas; a Universidade de Stanford ganhou e 5 equipas terminaram o desafio: mais de 200 km no Nevada conduzidos sem condutor humano33. Este foi o ponto de viragem.

O sonho vem de trás, mas o esforço duplicou nos últimos anos e o investimento em I&D neste tema já não tem fronteiras nem limites. A indústria automóvel tem sido pressionada por outros sectores no sentido de desenvolver a tecnologia para se manter firme no mercado, nomeadamente, empresas de informática, sistemas de informação ou inteligência artificial que vão formando alianças para se afirmarem como o melhor player no mercado.

Vamos começar do início…

Estamos a começar a ver nas notícias automóveis que vão do local A ao local B com pouca ou nenhuma interacção humana. As pessoas tendem a designar estes veículos de forma diferente e eles parecem efectivamente fazer coisas diferentes; alguns veículos têm tecnologias que permitem conduzir longas distâncias à mesma velocidade, outros são capazes de parar quando aparece um obstáculo e alguns até já são capazes de andar nas estradas sem nenhum condutor. Quando queremos aqui ver discutidas outras questões sobre o tema temos primeiro de nos focar em explicar alguns conceitos.

As notícias pouco ou nada dizem sobre a investigação que está a ser desenvolvida nesta área nem explicam a natureza destes veículos. É um tema novo e está a ser percorrido um longo caminho para investigar a tecnologia a fundo; mas será que o consumidor final não quer conhecer a tecnologia? ou vai ser absorvido por ela mesmo sem a perceber?

A SAE International1 permitiu que se adoptasse uma terminologia standard na mobilidade rodoviária para veículos com funcionalidades automáticas. Esta classificação identifica 6 níveis de condução que vão desde “sem automação” até “total automação” e é consistente com a prática corrente na indústria. O nível 5 SAE corresponde, assim, ao Veículo Autónomo.

  • Nível 0 – Sem automação – o condutor humano conduz na totalidade do tempo, ainda que possa ser auxiliado por sistemas de aviso e intervenção;
  • Nível 1 – Assistência na condução – a tecnologia pode assistir a condução, quer através da direcção quer da aceleração/desaceleração do veículo, usando informação sobre o ambiente de condução. É esperado que o condutor realize todas as restantes actividades da condução;
  • Nível 2 – Automação parcial – em parte igual ao anterior, só muda o facto de a condução poder ser realizada por um ou mais sistemas de assistência à condução, controlando tanto a direcção como a aceleração/desaceleração do veículo;
  • Nível 3 – Automação condicional – um sistema de condução automatizado controla todos os aspectos da condução dinâmica, esperando que o condutor possa responder de forma apropriada ao pedido de intervenção;
  • Nível 4 – Alta automação – em parte igual ao anterior, só muda o facto de o sistema de condução automatizado continuar a controlar o processo se o condutor não responder de forma apropriada ao pedido de intervenção;
  • Nível 5 – Automação total – desempenho a tempo inteiro do sistema de condução automatizado, para todos os aspectos da tarefa de condução dinâmica, em todas as estradas e condições ambientais que possam ser geridas pelo condutor humano.

A imagem abaixo explica melhor os níveis de automação SAE. Clica para abrires.

Hoje a teoria, daqui a 15 dias a prática. Não vale de nada ficar sem saber a que corresponde cada nível e em que pé estamos neste tema.