Transformar o centro de Lisboa?

Os veículos autónomos prometem revigorar o centro das cidades. Locais que até agora vivem com o congestionamento e barulho dos automóveis podem vir a ser transformados em zonas verdes, passeios largos e espaços únicos para se sentar e usufruir. Mas como?

Imaginem uma visita à Baixa, entrar no automóvel e conduzir rumo ao restaurante que está na berra. Além da confusão que é levar um carro para o centro da cidade, procurar um lugar de estacionamento pode ser um dos exercícios mais monótonos e cansativos na viagem. Um estudo inglês aponta que 30% do tráfego no centro das cidades, ou até 45% em alguns casos, é provocado por condutores à procura de um lugar de estacionamento34.

Um VA, devido à sua capacidade de se conectar à infraestrutura de estacionamento (V2I) e aos outros veículos (V2V), consegue ter acesso um conjunto de informações que lhe permitem saber aonde se deve dirigir. A eficiência da procura bem como das rotas, evitando congestionamento rodoviário em certos acessos, permite encurtar o tempo de viagem. Esta redução beneficia a eficiência energética e a qualidade do ar.

Mas porque é que o VA necessita de ser estacionado no centro da cidade? Não poderá o veículo largar os passageiros no ponto de destino e afastar-se do local, uma vez que é autónomo? A pressão de estacionamento no centro das cidade é elevada porque a oferta é escassa, o que se reflete nos preços absurdos de estacionamento. O VA pode estacionar fora do centro beneficiando de taxas de estacionamento mais baixas ou mesmo em casa, onde o estacionamento é gratuito.

Desta forma, o espaço actualmente destinado a estacionar os carros poderá ser convertido em locais de lazer. Esperamos do futuro uma Lisboa mais verde, com espaço para passear, andar de bicicleta ou até brincar na rua como antigamente?

2 comentários em “Transformar o centro de Lisboa?”

  1. Alguns pensamentos:
    “Os veículos autónomos prometem revigorar o centro das cidades”
    Os centros que estão a precisar de serem revigorados (e até nem são muitos) são exatamente nas cidades onde se insiste em não dificultar o acesso a veículos privados. Veja-se o centro de Londres, Paris, Copenhaga, Estocolmo, Amesterdão, Milão, Praga, Dublin, Genebra, Viena, Oslo (posso continuar mas acho que já perceberam a ideia) dificilmente poderiam ter mais vigor do que têm hoje. O que têm em comum? Quase ausência de estacionamento à superfície, portagens urbanas, etc

    “Imaginem uma visita à Baixa, entrar no automóvel e conduzir rumo ao restaurante que está na berra. Além da confusão que é levar um carro para o centro da cidade, procurar um lugar de estacionamento pode ser um dos exercícios mais monótonos e cansativos na viagem”
    Mas isto é possível desde há décadas usando um taxi, ou para sermos mais modernos, um Uber. O que terão os VAs de diferente? Rotas otimizadas, a sério? Não há espaço urbano suficiente para ter uma pessoa a ocupar 10m² quando se desloca, independentemente das rotas, semáforos, etc.

    “reflete nos preços absurdos de estacionamento”
    Não percebi se se refere a Lisboa/Porto ou outra qualquer cidade. Por cá temos dos preços ridiculamente mais baixos da Europa. E se compararmos com o preço do m² de outros uso do espaço urbano, seja habitação, comércio, esplanadas, etc então diria que sim, o estacionamento tem um preço absurdo por ser na realidade um subsídio.

    1. Concordamos que se pode utilizar o espaço de estacionamento à superfície para outros fins (que era o objectivo deste artigo).

      O sistema dos transportes é dos que mais mexe com o dia-a-dia das pessoas. Por isso é que as políticas/medidas precisam de ser implementadas com tempo, na altura certa e com indicadores que possam servir de avaliação. A discrepância das cidades que apontou é muito grande em termos de transportes [1]. Não se muda de um dia para o outro.

      Ir de taxi ou uber tem sido uma opção cada vez mais frequente [2], principalmente nos mais jovens . Mas se existem taxis há vários anos… Porquê agora? Eu acho que houve a oportunidade, e a novidade! Para além do sistema mudar, com a chegada deste novo serviço (uber, etc.), os mais jovens estão predispostos a usá-lo, tal como acontecerá para os SAV (taxis autónomos) [3]. Os SAV trarão a tecnologia e a novidade, numa altura em que existe abertura de mudança. Este inquérito [4] mostra que 80% está interessada em ter um VA.

      Se 30% do tráfego desaparecer no centro da cidade, como dizia o artigo, teremos maior fluidez; o que pode induzir mais tráfego (pois existe “maior” capacidade) ou pode ser utilizado para melhorar a mobilidade, com vias bus dedicadas, ciclovias, etc. Vai depender das medidas tomadas pela autoridade local. A comunicação V2I e V2V, que se traduz na prática em optimização de rotas, tempo de semáforos, eliminação de efeito “stop-and-go”, menos acidentes, etc. pode não ser assim tão desprezável como diz. Dentro das cidades terá menos impacte mas este artigo indica 10% de redução de tráfego [5], só devido a isto, em artérias urbanas, para 50% de penetração de mercado (VA).

      Relativamente aos preços do estacionamento, falo de cidades europeias no geral. E se comparar o preço de estacionamento ao preço de propriedades parece que não estamos tão díspares na correlação europeia segundo este estudo [6]. Oslo seria um bom exemplo, Lisboa não. E relativamente ao estacionamento no centro de Lisboa, para além de estar mais caro do que há alguns anos atrás, tem uma duração limite de 2h, o que é uma medida importante de racionamento.

      [1] http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/File:Distribution_of_the_principal_means_of_going_to_work,_capital_cities,_2015_(%25)_RYB17.png
      [2] https://www.statista.com/outlook/368/147/ride-sharing/portugal#
      [3] doi:10.1016/j.trc.2016.06.015
      [4] doi:10.1016/j.trc.2016.01.019
      [5] doi:10.1016/j.tra.2015.04.003
      [6] http://www.euronews.com/2016/05/10/the-cost-of-parking-across-europe-a-euronews-investigation

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