1. Introdução

Tirando partido da informação que tem vindo a ser disponibilizada, em resultado da execução dos projectos de sequenciação de genomas, emergiu, recentemente, uma nova abordagem experimental em Biologia, conhecida por análise Proteómica. Esta consiste no estudo das proteínas expressas a partir de um genoma, o denominado proteoma. A evolução desta abordagem experimental tem resultado do desenvolvimento, integração e automatização de uma variedade de técnicas e equipamentos que permitem separar, identificar, quantificar e caracterizar proteínas, bem como relacionar essa informação com a obtida por outras abordagens, através da Bioinformática.

A obtenção da sequência de nucleótidos do genoma de um organismo, por si só, constitui apenas um primeiro passo que, no entanto, abre caminho à realização de muitos outros estudos. De facto, através da inspecção da sequência do genoma não é possível obter informação sobre o nível de expressão de genes e proteínas, ou sobre características das proteínas expressas, tais como o seu o tempo de ½ vida, a sua localização sub-celular, eventuais modificações pós-tradução, interacções proteína-proteína e proteína-DNA, a estrutura e a função biológica das proteínas.

Um esforço significativo tem sido dirigido às técnicas envolvidas na proteómica quantitativa, de modo a viabilizar a sua exploração na elucidação de aspectos da regulação da expressão genética global. Esta análise complementa a monitorização de expressão genética global ao nível do mRNA (análise transcriptómica), a qual não permite apreciar aspectos de regulação que ocorrem pós-transcrição e pós-tradução.

Numa das abordagens mais comuns em proteómica quantitativa, recorre-se à separação das proteínas presentes em amostras biológicas, por electroforese bi-dimensional (2-D) em géis de poliacrilamida. A esta separação segue-se a comparação do conteúdo de cada uma das proteínas, produzidas em células ou tecidos que se encontram em diferentes estados fisiológicos, utilizando software desenvolvido para o efeito. A identificação das proteínas cuja expressão sofreu uma alteração significativa permite obter pistas sobre o seu possível envolvimento no processo biológico em apreciação. A análise das modificações das proteínas que ocorrem pós-tradução é também muito importante porque estas podem determinar o seu tráfego, a sua funcionalidade e o seu nível de actividade, sendo pois crucial para a compreensão das complexas redes de regulação subjacentes às respostas celulares a qualquer perturbação ambiental.



Fig. 1 - Representação esquemática dos vários passos da abordagem proteómica quantitativa descrita em detalhe nos pontos seguintes.